12.1.06

Orgulho nacional, respeito espanhol

Vire mais três páginas desta edição do Jornal de Negócios e leia a entrevista a Ramón Font. Aquilo que nos conta o ex-correspondente da TVE em Portugal merece a nossa atenção. Por muitas razões. Uma delas está na frase escolhida para título: "Disseram-me [na TVE] para não ter ilusões porque Portugal apenas entraria duas vezes por ano nos telejornais".
Talvez a nossa primeira reacção seja a de orgulho ferido. Logo nós, que somos quase monotemáticos na obsessão com Espanha. Porque é mais dinâmica, tem mais turismo, cresce mais, é mais rica, é mais culta, etc., e, claro, porque nos está a invadir, nos verga política e diplomaticamente, nos ignora, etc.
Mas a questão é talvez outra. A questão é que Portugal pode não ser assunto de telejornal apenas porque não interessa às audiências que o vêem. E, se assim é, é uma lição de humildade que custa a engolir: não somos importantes. Pior: não somos relevantes.
Continuando a ler a entrevista de Ramón Font, percebemos que não é apenas por desinteresse que os telejornais espanhóis não noticiam mais vezes Portugal. É provavelmente também porque satisfaz o ego castelhano sentir-se superior. E superiormente desprezar. Afinal, é assim tão diferente a snobeira com que Lisboa olha para o Porto? Não é precisamente com tiques de arrogância que na capital se desdenha a "obsessão" dos portuenses em detestar os lisboetas? Não adoram as redacções de Lisboa empacotar o Porto nos descalabros financeiros do Metro, da Casa da Música, da Capital da Cultura? A paga vem de Madrid: quando, este Verão, Portugal passou a ser notícia diária nas televisões em Espanha o motivo foi só um: os incêndios incontroláveis. Somos uns tansos e somos uns rústicos.
Voltemos ao orgulho nacional. Não é por obrigação que Espanha deve noticiar Portugal nem se espera que um dia passemos a ouvir em Madrid falar tanto de Portugal como em Lisboa se fala deles. Não há por cá conferência económica em que não se fale do poder dos espanhóis. Seja em que sector empresarial for. Entre empresários ou entre políticos.
Quando Portugal foi dos primeiros países a estar em condições de integrar a moeda única, Espanha estava ainda em risco. A notícia do nosso sucesso foi a notícia da vergonha espanhola. "Até os portugueses vão conseguir e nós podemos ficar de fora!", dizia-se escandalosamente em Espanha. Por cá, estávamos gordos de orgulho.
Para merecermos o respeito dos outros temos primeiro de termos respeito por nós próprios. Fazer, portanto, por nós.